quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A sem-gracice da vida

A quarta-feira de cinzas chegou para nossa tristeza e alegria. Esse misto de emoções me fez pensar como aprendemos a supervalorizar o extraordinário, o grandioso, o fantástico e desvalorizar o tédio, as pequenas coisas que acontecem na vida da gente. Por muito tempo, achei que havia algo errado em mim quando nada de “especial” estava acontecendo em meu dia, ou em um período da minha vida. Até que muitos anos de análise e busca por autoconhecimento me fizeram entender que essas fases mornas e os momentos de tédio são extremamente importantes e necessários para o ser humano.

Poderia justificar que a sem-gracice da vida regula nosso organismo e mantém o equilíbrio psíquico entre os picos de euforia e tristeza. Mas quero chamar a atenção para o que dificulta estarmos bem com a nossa monotonia.

Certa vez, estava conversando com uma amiga casada que me perguntou como estava minha vida de solteira. Eu respondi: "Nada demais, está tranquila". Essa minha amiga ficou surpresa com minha resposta. Ela achava que eu devia estar aproveitando minha solteirice, saindo para todas as festas da cidade e conhecendo inúmeras pessoas. 

Entendo que parte do relato da minha amiga era reflexo dos seus próprios desejos, mas o que achei curioso nessa situação é como foi avaliada negativamente minha vida pacata de solteira. Por um breve momento, me senti culpada por não estar fazendo programações mirabolantes, nem trocando o dia pela noite. Logo percebi o peso desses julgamentos, entrei em contato com minhas próprias necessidades e me permiti sentir bem e à vontade com o meu momento.

Essa sensação de conforto e aceitação da sem-gracice é alcançada quando avaliamos as críticas (nossas e dos outros) sobre o nosso modo de vida e buscamos conhecer nossos próprios parâmetros de bem-estar. Ficar em casa no final de semana passou a ter um novo sentido para mim.